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Tal qual uma matrioshka (boneca russa), vamos desvendando nossas porções. A cada novo tempo, uma nova aprendizagem. Agora é o momento de nos vermos como seres holísticos que têm: corpo, organismo, cognição (intelecto), inconsciente (desejo) e mente (consciência, espírito).

ANGELINI, Rossana Maia (2011)

“A falsa ciência cria os ateus, a verdadeira, faz o homem prostrar-se diante da divindade.”

VOLTAIRE (1694 -1778)

domingo, 13 de março de 2011

POESIA: A Sétima Lágrima

A Sétima Lágrima

Uma lágrima
Duas lágrimas
700 Km por hora de
Ondas de lágrimas
Incontidas
Chora
O planeta...

Gaia arrebenta
Entranhas
Pulsam
Movimenta
A comunidade
Humana
Dobra-se

Urgente decrescer
Renascer
Vidas compartilhadas
Espiritualizadas
Na dança
Estremecida
Da vida

Insustentável
Leveza...

O 7º temor mais violento do mundo
10/03/2011
Rossana Maia Angelini

sexta-feira, 11 de março de 2011

Texto para reflexão: Cenas do Brincar

Cenas do Brincar

         Há algum tempo, uma professora perguntou-me por que um de seus alunos só utilizava a cor preta dos lápis coloridos para pintar seus desenhos, se esse movimento trazia algum conteúdo emocional, perguntou também se não seria interessante intervir e tirar o lápis da criança, para que ela pudesse colorir seus desenhos com outras cores.
         Com certeza, a professora precisava de orientações. Então, iniciamos uma conversa e pedi a ela que pensasse sobre o significado da cor do desenho, ainda se a criança estava passando por alguma situação difícil de separação ou de perda na família e/ou na escola. Essas questões são fundamentais; pois nos ajudam a compreender o que se passa no emocional da criança. Assim, a professora definiu a cor preta por tristeza, luto, dor e ao conversar com a criança descobriu que o avô, de quem muito gostava, havia falecido. Foi dessa forma reflexiva que a professora pode entrar no universo da criança e acolher aquela dor. Proibi-la de usar a cor preta de nada adiantaria, não resolveria o problema, não faria sentido algum. Compreendeu, então, o como o desenhar, o pintar, espontaneamente, assim como o brincar são fundamentais para entrarmos no universo da criança e ajudá-la na elaboração das questões que põe em cena.
         O brincar espontâneo é tão importante que Melanie Klein (1882-1960), psicanalista austríaca que, para entender os problemas das crianças, passou a usar a brincadeira como diagnóstico, em suas terapias. Essa técnica possibilitava a compreensão da história da criança bem como seu sentido.
         Esse movimento nos leva a entender o brincar como fundamental no processo de aprendizagem da criança. Brincando a criança pode colocar em cena a representação de sua história, a qual não pode verbalizar diretamente em algumas ocasiões. Se não é possível falar, é possível brincar, uma oportunidade da criança contar e ressignificar sua história, o que diminui sua angústia, por meio de uma outra forma de comunicação que requer do outro um movimento de significação e sentido.
         A criança que brinca tem uma imagem do corpo constituída, porque tem capacidade de simbolizar, de pôr em cena sua história. Para tanto, acreditamos que para o brincar espontâneo ocorrer, há necessidade de um espaço de confiança, um espaço emocional positivo gerado pelo professor, pelo psicopedagogo, enfim por aquele que desenvolve a potencialidade de aprendizagem da criança. Faz se preciso uma escuta apurada aos signos que são expressos, a partir de uma linguagem verbal ou não-verbal veiculada pela criança: seu olhar, seu gesto, seu silêncio, uma forma de entrar em comunicação com o outro, o interpretante de seus signos, alguém que pode significá-los ou ressignificá-los, expandindo seu universo, consequentemente sua comunicação, uma possibilidade de livrá-la de uma introspecção total.
         O brincar envolve diferentes cenas, diversos caminhos e possibilidades de entrar em contato consigo mesmo e com o mundo. Uma das brincadeiras que temos escutado psicopedagogicamente é o brincar com o traçado. Se algumas retas representam antenas, os círculos podem representar pétalas de rosa ou uma face escondida que deseja aparecer. Brincar com o traçado pode levar a uma ampliação do mundo perceptivo e afetivo da criança, ou seja, é na interação com o outro, o qual dá sentido e amparo ao que é realizado pela criança que pode ocorrer a significação ou ressignificação de um traçado, de uma história, de uma vida. Atribuir um significado ao que a criança constrói é o que propicia um redimensionamento de sua interação com o mundo, ampliando sua comunicação e sua relação afetiva com os outros. Basta olharmos para os pichadores, quando ressignificado seu gesto e seu traçado, sua brincadeira agressiva, uma forma de comunicação com o mundo, deixa de ser marginal e desafetuosa. O novo olhar construído pela sociedade levou esse sujeito a reencontrar o afeto perdido, a dar um sentido à sua produção, agora ressignificada, hoje denominados artistas grafiteiros.
         A analogia nos proporciona a capacidade de reflexão e a ampliação de nossas relações de afetividade e amparo ao que o outro nos apresenta. Brincar, seja qual for a brincadeira, pressupõe uma dimensão simbólica, e é desse lugar que estaremos ampliando as nossas possibilidades de aprendizagem da criança e de sua afetividade com o mundo, visto que, com base na filogênese (evolução da espécie) e na ontogênese (evolução do indivíduo), o homem é um ser de símbolos, de metáforas, de associações, de arte, logo o homem é um ser de representação. Dessa forma, significar suas representações é a possibilidade de interpretá-las e daí estabelecermos uma comunicação, um diálogo que presentifica, vivifica e o torna um ser de relações.
         Por exemplo, ao significarmos, um movimento involuntário do bebê por um gesto voluntário, atribuindo-lhe um significado, como um sorriso, isso nos dá a capacidade de interação, de uma comunicação dialógica com a criança em relação a ela mesma e ao mundo a sua volta. É por esse caminho que vamos trilhando, buscando as possibilidades de aprendizagem da criança, significando sua produção, suas representações, redimensionando sua capacidade de aprender por meio do brincar. Quando não colocamos em palavras o que sentimos, podemos expressar nossos sentimentos por meio da música, da pintura, do desenho, da poesia, da escultura, das artes, em geral, do brincar; pois somos seres simbólicos, isso nos permite navegar por mares desconhecidos e enfrentar nossos fantasmas, nossas dores, nossa vida.
         As crianças são seres de comunicação, seres interpretantes, intérpretes de um mundo que requer, urgentemente, afeto e amparo daqueles que fazem parte de suas relações. Brincar é essencial à vida da criança, por isso, hoje, quando as crianças entram tão cedo na escola, é preciso repensar esse espaço e possibilitar a elas momentos lúdicos, espontâneos, para que exerçam sua autoria e sua criatividade.