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Tal qual uma matrioshka (boneca russa), vamos desvendando nossas porções. A cada novo tempo, uma nova aprendizagem. Agora é o momento de nos vermos como seres holísticos que têm: corpo, organismo, cognição (intelecto), inconsciente (desejo) e mente (consciência, espírito).

ANGELINI, Rossana Maia (2011)

“A falsa ciência cria os ateus, a verdadeira, faz o homem prostrar-se diante da divindade.”

VOLTAIRE (1694 -1778)

domingo, 29 de janeiro de 2012

Misticismo, Religião, Ciência e Espiritualidade: A busca pela síntese.


Vivemos num sistema em que impera o poder, a submissão, a exploração, a falta de conhecimento e a curiosidade embotada, por conta de um consumismo desvairado e sem sentido, num tempo em que a essência do humano escapa, se esvai e nos coisificamos. Tudo é feito de uma maneira, para que não possamos pensar em nossa essência humana, para que deixemos de nos preocupar com o conhecimento sobre nós. Corremos muito, a todo tempo, porque o sistema capitalista não pode deixar de gerar ilusões de consumo, para os grandes privilégios de alguns. Será? E, assim, todos correm freneticamente atrás do ter poder, ter dinheiro, ter, apenas.
Falta encontrar a dimensão real de quem somos nós, navegando por esse mundo que construímos, se partirmos do paradigma que somos seres espirituais, teremos que dar conta dessa porção que nos conecta com o que transcende, algo que está além de nós, que percebemos pelos fenômenos que ocorrem e não sabemos explicar cientificamente.
Há muitos séculos, a filosofia e a religião têm buscado essa compreensão, a primeira por meio do logus, a segunda por meio da fé. Quantas religiões, quantas filosofias e nada parece preencher o buraco que tem nos feito buscar o sentido disso tudo, da vida, do quem somos nós. A partir da segunda metade do século XX, tivemos o privilégio de alargar essa compreensão, a Física Quântica e algumas ciências contemporâneas, não positivistas, têm procurado responder a essas questões e algumas respostas vão de encontro a saberes de antigas religiões, de antigas filosofias. Parece-me que os saberes estão se conectando e, somente por meio desse encontro, poderemos compreender melhor nossa essência.
Fenômenos inexplicáveis ocorrem a todo tempo em diferentes lugares do mundo, muitos deles não compreendidos pela ciência materialista. Como explicar Chico Xavier, Padre Pio e tantos outros homens que, por meio de sua sensibilidade extrassensorial, ampliaram nossa compreensão de mundo: ver, sentir, ouvir, além da matéria? O que fazer? Negar a existência desses fenômenos e acreditar que tudo é fruto de alucinação ou efeitos do cérebro? Muitos psicanalistas e filósofos mataram Deus? No entanto que Deus eles mataram? O das religiões construídas, durante todos esses séculos? Como respondem ao que nos transcende? Estamos, sim, vivendo a busca de um novo humanismo, uma nova face sobre o encontro com o outro – o sagrado. Esse é um grande passo, vejo, portanto, a dimensão ética entrando em cena, mas ainda falta. Falta explicar coisas que ocorrem e que não compreendemos nesse mundo material, então, será tudo fruto de cérebros perturbados, doentes ou há, de fato, algo a mais? Ainda não crescemos, é preferível abafar esses fenômenos, tornando-os objeto da religião ou da loucura. Por que, ainda, não integramos tais conhecimentos para dar conta de uma explicação mais aprofundada sobre nós. Devemos caminhar para um conhecimento mais alargado, sim, para que haja uma expansão maior de nossa mente e possamos interligar o que está solto, talvez, o elo perdido. As ciências, em geral, precisariam se repensar e se articularem às religiões, para que a essência fosse trazida à tona. Será que os homens da religião querem isso? Será que os cientistas materialistas querem isso? Somos apenas matéria? Um dia morreremos e nossos corpos virarão pó? Somos seres espirituais? Carregamos nesse corpo material um espírito que nos conecta a algo maior ou não? Somos seres espirituais em uma experiência corpórea? Qual o objetivo, então, disso tudo? Aprender, elevar o espírito e a humanidade como um todo? Qual o objetivo? Por que Platão acreditava em reencarnação? Por que muitas religiões acreditam em reencarnação? Outras em ressurreição? Haverá algo a mais, de fato? E a paranormalidade – como explicar esse evento? E os outros tantos fenômenos que ocorrem; clarividência, sensitivos, etc...
Por isso tudo, fica tão difícil compreender o homem por um único e frágil ponto de vista: ou só psicanalítico, ou só neurológico, ou só religioso, ou só filosófico. O que nos falta é uma visão, de fato, mais alargada que possibilite pensar de forma espiral e não mais linear, especificamente; o quanto isso é difícil para muitas pessoas, inclusive cientistas, religiosos e grandes intelectuais. Creio que esse é o melhor exercício intelectual que um pesquisador pode fazer: ampliar suas conexões e articular os conhecimentos, para dar conta de uma compreensão mais alargada do quem somos nós. Somente, dessa forma, poderemos dar o salto e viver um novo paradigma em que possamos respeitar a vida seja ela quem for, como for.
Estamos caminhando... Para muitos, o olhar é outro, algumas ciências já não explicam mais, nem mesmo muitas religiões explicam mais, na verdade, elas levantam mais questionamentos do que respostas prontas e acabadas, basta você questionar e redimensionar a maneira de olhar o mundo e isso não é pecado, pelo menos, nesse novo paradigma não deveria ser. Pecado é não poder viver a aventura da reflexão, do questionamento e não se aventurar pelo mar desconhecido dos mais diferentes conhecimentos que vão formando um quebra-cabeça incrível para ser montado. Creio que, a cada novo tempo, e isso demanda séculos, encontramos novos caminhos, abrimos um pouco mais nossa mente para a compreensão do mundo e de nós mesmos nesse vasto universo. Ao longo de todos esses anos, tenho passado um filme sobre o percurso que a humanidade tem construído, é algo maravilhoso para perceber apenas em uma vida, apesar dos pesares humanos.
Sobre um provável pensamento transcendental, devemos voltar no tempo e lá no período paleolítico com o homem de Neandertal, foram descobertos por arqueólogos cemitérios em que foram encontrados homens enterrados em posição fetal e com alguns pertences. Será que esse homem percebeu sua finitude e precisou transcender para dar conta do desamparo, de sua morte e da morte de entes queridos? Por conta disso, logo vamos ter a construção dos mitos, explicações que transcendem o mundo real para a compreensão da vida. Nesse tempo, o homem descobre ou cria a transcendência, assim caminha, por meio de mitos, diferentes crenças e formas para se conectar com o que o transcende. Nascem as religiões, mais tarde, as politeístas, as monoteístas, as filosofias, tudo para dar conta do humano. A cada tempo, um novo conhecimento e uma nova maneira de controlar o humano pelo poder do conhecimento. Mais tarde, nasce uma das mais poderosas igrejas, a Igreja Católica criada por Constantino – inspirada em Jesus, um homem judeu que viveu dentro de uma filosofia – cínico – em sua época e que é morto por levar suas ideias ao povo, principalmente, àqueles que não conheciam ou que não tinham direito à reflexão. Com a fundação da Igreja, o mundo tornou-se Teocêntrico – tudo era feito em nome de Deus, inclusive, as mais duras barbaridades. Foi um longo período de sofrimento, de aniquilação e de grandes descobertas, em contrapartida. Mais tarde, o capital, a livre iniciativa começa a crescer, grandes revoluções sociais, e o homem inverte o paradigma – agora prevalece o antropocentrismo e Deus (creio que o da religião) é morto por psicanalistas, por filósofos, principalmente, pela ciência materialista que o mata. Entretanto, o mudo continua crescendo, se reinventando em tosos os aspectos e, de alguma maneira, tentando ser menos bárbaro, após tanta barbárie cometida. Nascem novas religiões e novas ciências para a compreensão do quem somos nós e uma possível articulação com algo que nos conecta e que nos transcende começa a ser esboçada pela Física Quântica, nasce uma nova compreensão do humano e do mundo. Estamos exatamente nesse ponto de transição, de dualidades, ainda: novas religiões, novas ciências para dar conta do quem somos nós.
Creio que não é mais possível negar nossa dimensão espiritual, uma porção que emana energia, que vibra, uma porção que vai além do nosso cérebro. Algo que possibilita nossa interconexão com outros seres e com o Todo. A energia que move o universo é a mesma que move nossos pensamentos, nossas ações. Essa energia possibilita nossa transcendência, nossas conexões. Somos seres em processo de lapidação – somos diamantes brutos que precisam aprender por meio das relações, para compartilhar da LUZ que emana do universo.
Precisamos desenvolver a espiritualidade por meio de uma educação ética e que propicie a autonomia de pensamento, sem culpa, sem medo, sem castigo, de forma responsável; pois somos cúmplices de todas as ações desencadeadas, e todos já respondemos por isso. Creio que, a partir desse novo século, poderemos avançar nas pesquisas, na nossa reeducação para uma nova sensibilidade e sofisticação para cuidar do humano e começarmos a construção de um mundo mais humanizado.
A síntese que proponho é o estudo multidisciplinar das várias ciências e religiões, para que possamos encontrar os pontos de convergência, a fim de crescermos espiritualmente e  vivermos com ética. Trabalhar, fundamentalmente, na educação com um pensamento alargado, sem barreiras, sem preconceitos, de forma aberta e acolhedora para a construção de um novo paradigma – em que impere um olhar de amor.
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domingo, 22 de janeiro de 2012

TEXTO: A paixão por escrever – um olhar ancorado no Complexo de Édipo


A meu pai Renato (in memoriam) e a minha mãe, Antônia

        Você já parou para pensar por que certas coisas que fazemos exercem tanto fascínio sobre nós? Em qual lugar estão ancorados esses desejos, essas vontades de realizar algo?
        No meu caso, essa magia se dá com a escrita, uma vontade imensa de pôr no papel, de registrar o que penso, o que imagino, o que me incomoda, o que me sensibiliza, o que me irrita, o que me angustia, a minha poesia. A palavra é minha fonte de criação. Busco, então, por meio dessa ferramenta dar forma aos meus pensamentos, brincar com ela.
Desde muito cedo, dei mostras desse meu caminho: gostar de escrever e gostar de ensinar. As duas coisas se juntaram e as Letras entraram em minha vida. Sou professora apaixonada pelas relações de aprendizagem e também por escrever, talvez por isso, registro tudo que considero importante para poder compartilhar com outros esses saberes.
        Dentro da educação, a vida me levou por muitos caminhos e, dentre eles, a necessidade de compreender mais profundamente as fraturas na aprendizagem e a dor que isso causa no outro. Articulei mais um conhecimento à minha rede. A psicopedagogia capturou-me e nos enamoramos pelas questões da aprendizagem. Afinal, estamos aqui por um único motivo: aprender! Nesse tempo, as questões psicanalíticas contribuíram para meu autoconhecimento, e o quanto isso é fundamental ao ser humano – buscar se conhecer, entrar no labirinto de sua psique e navegar por mares nunca dantes navegados.
        Há algum tempo, uma professora e psicopedagoga muito especial, com quem tive o prazer de trabalhar e de estudar, entrou na minha vida. Fui privilegiada ao poder desfrutar de suas experiências e trocar conhecimentos, essencialmente, na área da Inclusão. Um dia, Celma me perguntou por que gostava tanto de escrever. Se já havia pensado no porquê desse desejo, de pôr no papel as coisas que pensava e que criava e por que contagiava tanto as pessoas para descobrirem sua autoria, sua escrita. Lá nasceu Buquê – Aroma de Poesia – poesias criadas pelos alunos da escola TRILHA.
        Recordo-me que, naquele momento, não pude responder, mas essa pergunta me acompanhou em muitos momentos de minha auto-análise, de minha terapia, enfim... Faltava responder a essa questão. Hoje, depois de tanto tempo, levando meus alunos ao prazer por escrever, por criar, precisei compreender melhor esse movimento que exala de minha ação enquanto professora, para responder. Levantei algumas hipóteses, no entanto, nenhuma era tão convincente. Precisei, então, fazer uma viagem à pré-história de minha escrita (Incrível, isso! Material psicanalítico com que trabalho com meus alunos na psicopedagogia e na pedagogia, na área da construção dos processos de leitura e de escrita). Comecei o processo de rastreamento, voltei no tempo. Precisava compreender, de fato, o amor que me levou a essa construção, na verdade, mais do que amor, uma necessidade, assim como respirar.
Lá fomos nós, eu e minha criança que precisava ser resgatada, para me acompanhar nessa valiosa missão. Freud foi meu grande mestre nesse percurso. Comecei a pensar e flashs de um tempo de criança, começaram a brotar em sensações, cheiros, as idiossincrasias! Algumas imagens... Voltei no tempo, e pude me deparar com uma mãe muito zelosa, simples, muito acolhedora, brincava comigo e era dona de uma autoria incrível. Logo, no início dos anos 60. Lembro-me sentada no chão, brincando com letras, minha mãe cozinhando e eu por ali, recortando letras de meu nome, colando em uma folha, formando novas palavras. Tudo parecia ser muito mágico! Minha mãe me elogiava e me incentivava nessa construção das letras, das palavras que brotavam no chão. Logo, aprendi ler e escrever, brincando, num “espaço de confiança” criado com muito carinho e cumplicidade. Winnicott estava certo, a “mãe suficientemente boa” faz uma grande diferença na vida emocional do filho.
Entrei no grupo escolar com sete anos completos e fui contente contar à professora que já sabia ler e escrever. Sua resposta foi um tanto frustrante para a menina: “Agora, você vai aprender ler e escrever aqui, na escola...” Caminho Suave foi, então, o caminho a seguir... Fazer o quê?! Década de 60.
Parecia ter encontrado a resposta à pergunta da Celma, entretanto, algo faltava, não era bem isso que me levava à paixão por escrever. O trabalho de minha mãe foi maravilhoso, mas faltava algo. Lembro- me da imagem de meu pai vindo a todo instante nessa história. Pois, quando sentada ao chão brincando, observava meu pai em uma poltrona. Voltei para mais perto e pude vê-lo lendo seu jornal diário, após o jantar. Veio uma sensação de admiração, de amor. Tudo estava harmonioso e o mundo era perfeito!
Voltei mais um pouco para poder responder a pergunta inicial. Novo flash, minha criança surpreendeu-me, com um olhar aguçado, lembrou-me da letra de meu pai. Se havia algum referencial de escrita e de letra bonita em casa, era a do meu pai!  No entanto, o que me capturava em relação à escrita de meu pai, era sua letra bonita, sim, mas havia algo especial. Aos poucos, fui me dando conta, sua escrita era de amor, amor pela minha mãe, o que ficava registrado em belíssimos cartões que ele escrevia, declarando-se a ela (a mim?). Sua escrita era a expressão do amor! Assim, entrei nesse mundo mágico que a escrita me ofereceu. Queria ser como meu pai: escrever e expressar meu amor pela escrita. Foi o que aconteceu durante muitos anos, na casa com meus pais, passei a escrever os cartões de aniversários, bem como as cartas a parentes e aos amigos. Era fascinante! Queria ser escritora! Ah! Freud!
Minha escrita nasceu do amor e eu havia nascido do amor de ambos. Tudo começou a fazer sentido e minha admiração por meu pai era crescente. Até sua assinatura foi inspiração para a minha, quanto o imitei! Uma maneira de sentir-me admirada por ele.
Minha criança foi investida de muito desejo, de amor. Ela pôde perceber um pai com qualidades que a ajudaram a se estruturar nesse mundo. Freud foi pontual! O Complexo de Édipo traz muitas explicações e/ou implicações sobre nossa pré-história e como é importante navegar por essa história, para que possamos crescer e compreender onde nascem nossos desejos, nossas vontades, nossas fraturas, muitos ancorados em nossa vida pré-natal, na nossa pele, em nosso inconsciente.
O tempo passou, minha escrita ganhou vôos – esteve, a todo tempo, sustentada pelo amor. O Édipo entrou em cena – o amor por meu pai levou-me a construir a vida de forma serena e ética, sentia-me amada e quis presenteá-lo com o que mais admirava nele: sua escrita. Hoje, escrevo diferentes textos acadêmicos, literários, poéticos inspirados pelo amor. Agora posso responder à pergunta da Celma, e entender o texto que uma de minhas alunas me escreveu, ao qual denominou Guardador de palavras:
“Tem muitos jeitos de escrever por aí...
Antigamente, os homens escreviam por desenhos gravados na pedra. Imaginem só como era difícil escrever, mas mesmo assim, escreviam. Hoje, com o incentivo e o desejo da professora Rossana de tornar que seus alunos sejam autores de suas próprias palavras escritas, estou aqui, então, a escrever meu primeiro livro. Não há quem fique perto de Rossana e não seja contagiado pelo desejo de ler e de escrever. É só começarmos a fazer como os grandes autores, que de tudo escrevem! Foi assim que juntando as palavras, uma a uma, consegui escrever a minha história. Para mim, o livro é um guardador de palavras, dos melhores que já se inventou. Quantas coisas dizem, e depois nos esquecemos! Se escrevêssemos tudo, quantos guardadores já teríamos. Foi maravilhoso ter escrito meu primeiro livro.” (Patrícia, 2011)
Agradeço aos Anjos por iluminarem meu caminho e me possibilitarem compartilhar essa paixão: a construção da escrita - com quem passa por mim.

Obrigada, Celma Cenamo!
(in memorian)

Texto para reflexão: pais e educadores.



O Rito de Passagem: meu filho foi para o intercâmbio.


            O rito de passagem está na nossa literatura, desde há muito tempo. A partir de tribos indígenas, nos mais distantes lugares, conhecemos diferentes rituais veiculados pela mídia, para que possamos compreender a passagem do adolescente para a vida adulta. Muitos dos rituais, segundo a nossa cultura ocidental, parecem agressivos, porém, precisamos entender esses rituais, colocando nossos óculos de historiadores e não julgarmos as mais diferentes culturas do nosso planeta.
            Um dos ritos bastante lembrado é o de Telêmaco, personagem da epopéia grega, escrita por Heródoto, a Odisséia, na Antiguidade. Telêmaco, filho de Ulisses, enfrenta difíceis situações, ao ver-se sem o pai, e ter de assumir as responsabilidades com a família. São situações difíceis e embaraçosas, para que esse jovem adolescente aprenda a enfrentar a vida e reinventar seu cotidiano.
            Creio que é aqui que se funda o rito de passagem: do adolescente ter de enfrentar a vida, sem que os pais estejam por perto. É de natureza humana viver a necessidade do rito de passagem – algo tão comum às civilizações primitivas e antigas. Cada rito se expressa de uma maneira, por meio da cultura em que se vive. Hoje, temos outras formas de ritos que possibilitam essa passagem.
O rito de passagem é uma necessidade para se cortar o cordão umbilical, para romper a condição de filhos submetidos emocionalmente aos pais. A conquista é enfrentar os desafios da vida e se dar conta de seu enfrentamento, a fim de aprender a lidar com o medo, com a solidão, com situações inéditas e tomar decisões próprias, logo aprender a contar consigo mesmo, nas mais diversas vivências.
            Esse é o caminho que desnuda o ser, implica em autonomia de pensamento, é um percurso revelador; pois nos faz deparar com o nosso self, com nosso eu íntimo, que pode se revelar um grande amigo ou não, podemos dizer que é um momento para se descobrir a força interna que nos impulsiona para a vida, para a autoria.
            Na civilização ocidental moderna, os ritos persistem de várias formas, em diferentes idades, entretanto a necessidade de sair de casa para encarar a vida (mesmo com apoio financeiro dos pais) é uma forma de viver a passagem para o crescimento interno, diria que é uma necessidade - e saudável! - à psique humana. Nesse processo, podemos observar a construção da autoria, fundada na autonomia de pensamento, tão fundamental ao ser humano: contar consigo mesmo, nas mais diversas situações. Emerge nesse processo a criatividade de viver e de poder se adaptar às diferentes realidades. Outra coisa pontual é compreender que os filhos estão a nós emprestados, temos de zelar por eles, educá-los, possibilitar-lhes o encontro consigo mesmos e oferecer-lhes condições de enfrentar a vida e, acima de tudo, investir na coragem que têm de empreender situações que os levem ao crescimento, a uma autoria de vida. Como isso é fundamental! É a busca do sentido, como diria FERRY (2010). É o encontro com o self, para responder a uma pergunta: Quem sou eu?
            Creio que enquanto pais, o bem maior que podemos deixar aos filhos é a confiança em si mesmos, a curiosidade por conhecer e ter autoria, ser ético, acima de tudo, em qualquer circunstância, e os instrumentalizarmos de acordo com as necessidades do contexto. O resto é decorrência, é construção. O alicerce fica fundado.
            O rito de passagem é um grande desafio emocional para os filhos e para os pais, nas suas diferentes perspectivas, implica em separação, em dor, em saudade, mas também em coragem de acreditar em nossa capacidade de superação. Por isso, vale a pena investir, desde cedo, numa educação libertadora, com limites, e que privilegie a autonomia de pensamento, um processo dialético em que ambos estão envolvidos na construção: pais e filhos.
           
            Ao fazer a releitura dos ritos de passagem, pude percebê-los de formas diferentes nesse novo século, no ocidente, e o quanto é importante para os nossos filhos. O intercâmbio para outros lugares, para outros países, para estudar, para trabalhar ou exercer trabalhos voluntários, é visto como uma necessidade, faz parte do crescimento e do desenvolvimento psicoemocional de nossos jovens.
Estamos em busca do sentido sempre... Porque ele é que nos permite viver a vida.
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