REFLEXÃO:
Novas lentes para escola
As escolas do séc. XXI não têm de criar e/ou
buscar artifícios, mecanismos para justificar a retenção do aluno, porque se
sente ameaçada por recursos e/ou processos junto aos órgãos responsáveis pela
educação. Na verdade, a escola do séc. XXI não deveria mais gastar energia
pensando no binômio: reprovação/justificação, mas, sim, em criar mecanismos
para desenvolver a aprendizagem dos alunos, resgatar suas possibilidades de
aprender com autoria, com desejo, com vontade.
A escola tradicional, ultrapassada que fica, em
pleno séc. XXI, preenchendo papéis e mais papéis para se defender de um
recurso, de um processo, posicionando-se como refém, dentro de um pensamento
persecutório, não compreendeu, ainda, a ação, a práxis do séc. XXI, por qual a
escola deveria se nortear. Estamos no séc. XXI, e devemos pôr em prática as
teorias tão estudadas e desenvolvidas por renomados cientistas do séc. XX, já
se revirando em seus túmulos frente ao massacre educacional que as escolas
continuam cometendo, frente à aprendizagem do aluno. Agora é momento de
transformação, não mais de resistência, de mecanismos que sustentam o
sentimento persecutório dos educadores, um duelo entre alunos, famílias e
escolas, as quais perderam o bom senso, que deixaram de ser escolas para serem
espaços de excelência na competitividade, na opressão e no desgaste emocional
de todos, melhor, com bons lucros. Negócio rentável! A escola virou um bom(?)negócio!
Quanta dor! Paga-se por essa dor, a escola virou sinônimo de dor, quantos
alunos e professores doentes!
É imprescindível ao aluno a liberdade para
aprender com sentido e com significado, dentro de suas possibilidades e avançar
para a zona de desenvolvimento potencial, portanto, reprovar não é mais o
caminho, nem aqueles diários pingando sangue e empoderando determinados
professores e escolas. Que triste! A escola necessita se reinventar, gastar sua
energia na capacitação de professores desejantes, docentes que não tornem os
alunos reféns de suas aulas e de suas avaliações traiçoeiras, muitas vezes.
Nesse novo contexto, faz-se necessário que o mediador da aprendizagem (professor)
desenvolva no sujeito da aprendizagem o gosto, o desejo por conhecer, a fazer as
perguntas necessárias para a exploração da vida no séc. XXI.
Não faz mais sentido a reprovação, o retrocesso.
O mundo é aprendizagem, somos seres de aprendizagem. O sujeito da aprendizagem
precisa caminhar, não paralisar, precisa aprender a construir conhecimento,
autoconhecimento por meio da pesquisa, de projetos, da troca, da mediação, de
um processo dialógico, tudo isso deve partir da descoberta do professor, do seu
profundo desejo de ser autor e coautor com o sujeito da aprendizagem. Desejo que
transforma e tira as coisas do lugar empoeirado em que está a nossa escola:
chata, opressora, traidora, enganosa, onde todos estão oprimidos. Que condição lamentável!
Espelhamos a condição miserável de nosso país: pobre! Pobre no que há de
fundamental: uma escola em que impera o apartheid. Urge uma escola
transformadora que liberta o humano para a vida em sua beleza e na sua riqueza
pelo conhecimento – sagrado ao humano.
A escola precisa fazer novos exames
oftalmológicos, trocar suas velhas lentes, perceber um novo enfoque, uma nova
vida, dessa forma, olhar para a vida que pulsa, para as habilidades, para as competências,
para a performance do sujeito que aprende, uma escola que valorize a capacidade
de realização do aluno, por meio de atividades desafiadoras, interessantes que
possibilitem a construção da autoria, os projetos encaminhados pelas exigências
da comunidade, do entorno. Valorizar a inteligência emocional. O sujeito da
aprendizagem, por meio da mediação, deveria aprender a olhar para os problemas
que afligem a sociedade, fazer intervenções, construir novas soluções, novas
pontes. Isso é autoria!
A escola não precisa mais de mecanismos que a
encapsulam e tornam todos reféns – professores, alunos e famílias de um
processo desgastado e fracassado. É fundamental que a escola reveja sua
filosofia frente ao novo mundo que desperta, para que a educação como um todo
seja transformada em nosso país.
A reprovação alimenta o mercado consumista da
educação. A escola não poderia mais ser uma mercadoria; no entanto, enquanto
for, desumanizará, e, como “cria” do ranking, quem perde é o aluno também, a
família. O aluno do século XXI está adoentado, um processo reativo, em que a
escola é a mentora. A escola deixou de ser escola para ser cursinho, gerou mais
dor! A escola virou uma engrenagem do mercado, quando deveria pertencer ao
sagrado; pois o conhecimento liberta e como libertador, liberta toda uma
sociedade se a ética e o conhecimento prevalecerem. Aprender deveria ser
patrimônio humano, um direito igual para todos.
Escolas, como temos, não mais! Deveríamos ter
Centros de Aprendizagens e Pesquisas. Fica a reflexão.
Rossana Angelini
01/2/2018