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Tal qual uma matrioshka (boneca russa), vamos desvendando nossas porções. A cada novo tempo, uma nova aprendizagem. Agora é o momento de nos vermos como seres holísticos que têm: corpo, organismo, cognição (intelecto), inconsciente (desejo) e mente (consciência, espírito).

ANGELINI, Rossana Maia (2011)

“A falsa ciência cria os ateus, a verdadeira, faz o homem prostrar-se diante da divindade.”

VOLTAIRE (1694 -1778)

domingo, 26 de dezembro de 2010

Texto para Reflexão - TEXTO PARA PAIS & FILHOS

Os Pais que somos e filhos que fomos em relação.

         As relações pais e filhos passam pelo sonho, pelo afeto, pela emoção, pelo olhar, pelo tato, pela pele, pelo discernimento, pelo desejo, pela vida. As mães são mães e os pais são pais, porque os filhos ensinam a maternidade, a paternidade, e as mães e os pais também foram filhos. Assim, nasce a aprendizagem. Nascemos para aprender com o outro e, em especial, aprendermos as relações.
         As primeiras aprendizagens chamamos de modalidade, ou seja, a maneira pela qual aprendemos, e nossos primeiros ensinantes são nossos pais. A aprendizagem, num primeiro momento, passa pelo corpo, pelo olhar, pela pele, como vimos; mas, fundamentalmente, passa pela linguagem e pelo inconsciente. Registramos e estruturamos nossa vida psíquica por meio das vivencias que vamos experimentando, construindo, desconstruindo, desde muito cedo, por meio das relações com nossos pais.
Pensar no como exercemos a maternagem e pensar na relação que estabelecemos com os filhos implica em pensarmos nas ações, nas relações que vivemos enquanto filhos com nossos pais. Algo tão dialético! Transformamos e saímos transformados da relação, portanto, essa relação precisa ser refletida para nos compreendermos como pais que somos e como filhos que fomos, para entendermos as necessidades, as angústias, as insatisfações, as esperanças, as expectativas, as vontades de nossos filhos, compreendermos os nossos pais e a nós mesmos.
Ser pai, ser mãe é aprender a olhar com humildade para nossos pais e podermos pensar no melhor que fizeram por nós dentro de suas possibilidades. Esse movimento, permite-nos, não o perdão, mas a compreensão das relações que construímos com nossos pais, nossos espelhos.
Quando a questão é o nosso filho, pensamos sempre no melhor, contudo, é preciso pensar no que é melhor para a relação que estabelecemos com nossos filhos. Esse pensar nos coloca num movimento, em que implica o diálogo, a mediação, a conversa.
Ao entrar na adolescência, o filho deseja ser visto como pessoa que tem discernimento e que busca a conquista de sua autonomia, o que marca sua diferença como pessoa, sua singularidade. Esse é o momento em que o filho mostra aos pais que precisa crescer e busca uma relação de confiança, de amizade e de cumplicidade. Se os pais se mostram abertos ao diálogo, à conversa, à troca, como na relação com um amigo, podemos pensar que foi criado um espaço de confiança entre pais e filhos, o que favorece uma relação saudável e, acima de tudo, de flexibilidade, de compreensão, de aceitação de novos pontos de vista, diferente dos nossos, na nossa adolescência.
Faz-se importante fortalecer o jovem para o mundo, para as experiências que vivenciará. Não prendê-lo em uma redoma, entretanto, compartilhar com ele seus momentos, seu presente e oferecer-lhe a palavra, o gesto, o acolhimento da amizade, do respeito entre pessoas que conversam para chegarem ao bom termo, para a resolução de uma situação difícil. Esse é um exercício que implica em nos revermos a cada instante como pais e termos um olhar para o crescimento e fortalecimento emocional de nossos jovens em seu desenvolvimento enquanto pessoas capazes de autonomia e autocrítica.
Por meio da conversa, do diálogo, podemos abrir o verdadeiro caminho das relações saudáveis, o que implica em ouvir, escutar, compreender a fala e as atitudes de nossos filhos. Dessa forma, estaremos propiciando um espaço de confiança e uma relação de cumplicidade frente a uma realidade em que o diálogo está se perdendo, por conta do tempo e de uma vida corrida.
O encontro com os filhos adolescentes é um encontro conosco mesmos em nossa adolescência, e muito de nós é reeditado por nossos filhos. Um olhar transgeracional! Por isso, cabe o olhar da compreensão, não o do confronto, mas o olhar do acolhimento.
Fórmula não existe, ser como nossos pais, também não, é preciso estarmos dispostos a reaprender a relação com nossos filhos, pessoas que vivenciam outro contexto, outra realidade frente às relações que estabelecem. Assim, podemos pensar do lugar de uma mãe suficientemente boa, dentro de uma abordagem winnicottiana, a mãe que tem escuta, que acolhe e que não fica delegando o filho a “n” especialistas. Os pais precisam aprender um saber sobre os filhos, esse saber é algo construído na intimidade, na cumplicidade do dia a dia. Esse é o movimento que nos diferencia: ser presente.
Ouvimos com frequência a frase “Quanto tenho de minha mãe e o quanto isso me incomoda.” Esse pensar já é um movimento para a reflexão. Para a busca de uma autoria enquanto mãe, pai na relação presente com os filhos. Não precisamos repetir nossas mães, nem nossos pais, cabe sim um olhar ao que ficou de bom desses pais para a nossa vida, para a vida em relação com nossos filhos.
Nada existe sem a relação. O que está em um está no outro e o incômodo que podemos ter é o que está na relação que estabelecemos, o foco está na relação e é dela que devemos cuidar. Como disse uma aluna: “Cuidar de mim, para cuidar do outro”, ou seja, cuidar da relação. Quanta sabedoria! Somos, portanto, seres contextuais, com múltiplos selfs. Creio que esse é um exercício que implica em paciência, escuta, diálogo, acolhimento, respeito, flexibilidade e amizade ao filho que é o outro na relação, uma pessoa em busca de si mesmo no mundo, por meio dos pais.

Rossana Maia Angelini
Psicopedagoga Clínica e Institucional
Profª Mestre em Pedagogia

Um comentário:

  1. Rossana
    Como é bom ler seus textos e observar como acrescentam a nossa essência! Pais que são filhos...filhos que são pais...relação gerada do amor que transcende o espaço de confiança, tornando o ser ... humano nas múltiplas aprendizagens da vida!
    Bj
    Mara

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