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Tal qual uma matrioshka (boneca russa), vamos desvendando nossas porções. A cada novo tempo, uma nova aprendizagem. Agora é o momento de nos vermos como seres holísticos que têm: corpo, organismo, cognição (intelecto), inconsciente (desejo) e mente (consciência, espírito).

ANGELINI, Rossana Maia (2011)

“A falsa ciência cria os ateus, a verdadeira, faz o homem prostrar-se diante da divindade.”

VOLTAIRE (1694 -1778)

domingo, 8 de maio de 2011

Autoria e Criatividade na Educação



Rossana Maia Angelini

         Para compreendermos porque falamos em autoria e criatividade na educação hoje, no século XXI, precisamos nos dar conta que estamos sob uma nova visão de mundo: o paradigma da Pós-Modernidade, que compreende o homem de forma holística, sistêmica. Para que a autoria seja desenvolvida, devemos trabalhar com a autonomia de pensamento do aprendente, a fim de que possa sair do lugar comum, buscar soluções criativas para os problemas que vier   enfrentar, que possa ousar e evitar uma grave doença: a da “normapatologia” – a doença da mesmice, e saltar para um movimento em que possa se redescobrir enquanto criador, empreendedor de novas idéias.
         A educação é essencial à construção desse processo. À medida que os grandes teóricos trouxeram suas novas pesquisas sobre o homem, o mundo, e seu desenvolvimento, não mais podemos nos deixar levar por uma ação, por uma práxis pedagógica descontextualizada. Piaget (1896-1980), psicólogo, no século XX, trouxe-nos grandes estudos acerca do desenvolvimento da criança, dentre eles, a pesquisa que resultou num livro: O juízo moral na criança (1977). Creio ser importante retomar esse estudo para compreendermos como desenvolver a autonomia na educação. Para o autor, a criança passa por um desenvolvimento moral: na fase da anomia, natural à criança pequena, não existem regras e normas, já no adulto, evidencia-se por aquele que não respeita as leis, as pessoas. Já na moralidade heterônoma, os deveres são impostos, tanto a criança ou adulto obedecem às regras por medo de ser punido. Quando há ausência de autoridade, prevalece a indisciplina. Na moralidade autônoma, tanto a criança como o adulto desenvolvem uma consciência ética sobre as relações. A responsabilidade pelas suas atitudes são eles mesmos, independe da autoridade de outro. Hoje, concebemos um processo educacional que deve levar a criança a deixar de seu egocentrismo natural nos primeiros anos de vida, anomia, caminhar para a heteronomia, até chegar, de forma natural, à construção de sua autonomia moral, intelectual. O objetivo central é o de uma educação pautada pela autonomia de pensamento e, que consequentemente, possa desenvolver autoria e criatividade.
Dessa forma, existe, hoje, em nossa sociedade a preocupação de construir a autonomia de pensamento, por meio de uma ética que considere o humano de forma holística, o que se tornará mais compreensível, quando aprendermos a nos colocar no lugar do outro, construir auto-respeito, respeito aos outros. Esse é o passo para o desenvolvimento da consciência.
         O sujeito que tem autonomia, tem capacidade de construir a autoria da vida e criar soluções inovadoras aos problemas que se apresentarem no percurso. Somente nos comprometendo e nos responsabilizando com o todo, teremos capacidade de melhorar o mundo. Buscamos construir, então, uma nova sociedade, em que todos estão interligados. A Física Quântica que trabalha com as menores partículas da molécula tem nos apresentado um novo mundo. Isso só foi possível porque os cientistas saíram do lugar comum, por meio de perguntas e de muita reflexão.
         É, portanto, a criatividade que nos move o tempo todo, por uma necessidade de adaptação. Albert Einsten (1879 – 1955), físico e humanista alemão – autor da Teoria da Relatividade – que revolucionou o mundo, dizia “A imaginação é mais importante que o conhecimento...” são as perguntas, as curiosidades que nos movem, as necessidades, a ousadia e, acima de tudo, a reflexão.
         A jornada do homem é longa, sempre que precisou se adaptar às condições do planeta, necessitou ousar, desenvolver cultura, criar artefatos, ferramentas que o ajudassem a lidar com a vida, sobreviver. Criou, dessa forma, tecnologia – ferramentas – que o auxiliassem a abrir novos caminhos, e não parou mais.
         Podemos dizer que foi com os mitos que o homem criou suas primeiras histórias para dar conta do inexplicável, como a morte, por exemplo. Há muito tempo, no período paleolítico (20.000 a 8.000 a. C.), o Homem de Neandertal, caçador, enterrava seus mortos em posição fetal e com alguns pertences, descoberta feita por arqueólogos, ao encontrarem cemitérios dessa época. Talvez, pensasse na vida pós-morte e para dar conta disso, criou histórias. O que quero dizer com tudo isso é que o homem é um ser de criação, de imaginação, um ser simbólico.
         Já caminhamos uma década do século XXI, a sociedade, o mundo mudou, não podemos mais conceber a educação como os escribas de 3.000 a. C., na Babilônia, quando criaram a escrita cuneiforme, cuja aprendizagem era baseada na transmissão, na repetição, na memorização, no castigo corporal. Temos que, finalmente, dar “o salto” e entendermos as novas ciências que têm colaborado para a compreensão da aprendizagem humana enquanto construção, interação, para que, então, desenvolvamos novas estratégias e metodologias adequadas a esse novo paradigma.
Se quisermos ver uma sociedade baseada na democracia, na sustentabilidade, todos terão de se envolver com a construção desse novo momento, e isso deve partir de uma consciência educacional pós-moderna, que tenha como fundamento a ética, a autonomia de pensamento, a responsabilidade pela vida, seja como for.
Referências Bibliográficas:
ANGELINI, Rossana Ap. V. Maia. O Processo Criador em Literatura Infantil. São Paulo: Ed. Letras e Letras, 1991.
PIAGET, Jean. O juízo moral na criança. São Paulo: Summus, 1994.
POZO, Juan Ignacio. Aprendizes e Mestres – A nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.
ARMSTRONG, Karen. Breve História do Mito. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

2 comentários:

  1. "Essas novas estratégias e metodologias adequadas a esse novo paradigma" constituem o novo desafio que, ao ser encarado como um verdadeiro enigma a ser decifrado pelo educador, permitirá alcançarmos a autoria e a criatividade destacadas pela Professora Rossana. Sem dúvida, temos muito trabalho a fazer. Então,mãos à obra todos nós!

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  2. Muito obrigada, Débora!

    Realmente, o comprometimento de todos é fundamental.
    Grande abraço.

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