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Tal qual uma matrioshka (boneca russa), vamos desvendando nossas porções. A cada novo tempo, uma nova aprendizagem. Agora é o momento de nos vermos como seres holísticos que têm: corpo, organismo, cognição (intelecto), inconsciente (desejo) e mente (consciência, espírito).

ANGELINI, Rossana Maia (2011)

“A falsa ciência cria os ateus, a verdadeira, faz o homem prostrar-se diante da divindade.”

VOLTAIRE (1694 -1778)

domingo, 22 de janeiro de 2012

Texto para reflexão: pais e educadores.



O Rito de Passagem: meu filho foi para o intercâmbio.


            O rito de passagem está na nossa literatura, desde há muito tempo. A partir de tribos indígenas, nos mais distantes lugares, conhecemos diferentes rituais veiculados pela mídia, para que possamos compreender a passagem do adolescente para a vida adulta. Muitos dos rituais, segundo a nossa cultura ocidental, parecem agressivos, porém, precisamos entender esses rituais, colocando nossos óculos de historiadores e não julgarmos as mais diferentes culturas do nosso planeta.
            Um dos ritos bastante lembrado é o de Telêmaco, personagem da epopéia grega, escrita por Heródoto, a Odisséia, na Antiguidade. Telêmaco, filho de Ulisses, enfrenta difíceis situações, ao ver-se sem o pai, e ter de assumir as responsabilidades com a família. São situações difíceis e embaraçosas, para que esse jovem adolescente aprenda a enfrentar a vida e reinventar seu cotidiano.
            Creio que é aqui que se funda o rito de passagem: do adolescente ter de enfrentar a vida, sem que os pais estejam por perto. É de natureza humana viver a necessidade do rito de passagem – algo tão comum às civilizações primitivas e antigas. Cada rito se expressa de uma maneira, por meio da cultura em que se vive. Hoje, temos outras formas de ritos que possibilitam essa passagem.
O rito de passagem é uma necessidade para se cortar o cordão umbilical, para romper a condição de filhos submetidos emocionalmente aos pais. A conquista é enfrentar os desafios da vida e se dar conta de seu enfrentamento, a fim de aprender a lidar com o medo, com a solidão, com situações inéditas e tomar decisões próprias, logo aprender a contar consigo mesmo, nas mais diversas vivências.
            Esse é o caminho que desnuda o ser, implica em autonomia de pensamento, é um percurso revelador; pois nos faz deparar com o nosso self, com nosso eu íntimo, que pode se revelar um grande amigo ou não, podemos dizer que é um momento para se descobrir a força interna que nos impulsiona para a vida, para a autoria.
            Na civilização ocidental moderna, os ritos persistem de várias formas, em diferentes idades, entretanto a necessidade de sair de casa para encarar a vida (mesmo com apoio financeiro dos pais) é uma forma de viver a passagem para o crescimento interno, diria que é uma necessidade - e saudável! - à psique humana. Nesse processo, podemos observar a construção da autoria, fundada na autonomia de pensamento, tão fundamental ao ser humano: contar consigo mesmo, nas mais diversas situações. Emerge nesse processo a criatividade de viver e de poder se adaptar às diferentes realidades. Outra coisa pontual é compreender que os filhos estão a nós emprestados, temos de zelar por eles, educá-los, possibilitar-lhes o encontro consigo mesmos e oferecer-lhes condições de enfrentar a vida e, acima de tudo, investir na coragem que têm de empreender situações que os levem ao crescimento, a uma autoria de vida. Como isso é fundamental! É a busca do sentido, como diria FERRY (2010). É o encontro com o self, para responder a uma pergunta: Quem sou eu?
            Creio que enquanto pais, o bem maior que podemos deixar aos filhos é a confiança em si mesmos, a curiosidade por conhecer e ter autoria, ser ético, acima de tudo, em qualquer circunstância, e os instrumentalizarmos de acordo com as necessidades do contexto. O resto é decorrência, é construção. O alicerce fica fundado.
            O rito de passagem é um grande desafio emocional para os filhos e para os pais, nas suas diferentes perspectivas, implica em separação, em dor, em saudade, mas também em coragem de acreditar em nossa capacidade de superação. Por isso, vale a pena investir, desde cedo, numa educação libertadora, com limites, e que privilegie a autonomia de pensamento, um processo dialético em que ambos estão envolvidos na construção: pais e filhos.
           
            Ao fazer a releitura dos ritos de passagem, pude percebê-los de formas diferentes nesse novo século, no ocidente, e o quanto é importante para os nossos filhos. O intercâmbio para outros lugares, para outros países, para estudar, para trabalhar ou exercer trabalhos voluntários, é visto como uma necessidade, faz parte do crescimento e do desenvolvimento psicoemocional de nossos jovens.
Estamos em busca do sentido sempre... Porque ele é que nos permite viver a vida.
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2 comentários:

  1. HOUVE UMA ÉPOCA EM MINHA VIDA QUE TIVE VERDADEIRO ENCANTAMENTO PELOS RITOS DE PASSAGEM, QUANDO COMECEI A ESTUDAR CIVILIZAÇÕES ANTIGAS, INDIGENAS,CIGANOS..
    DEPOIS DO ENCANTAMENTO PERCEBI QUE ESSES RITOS OU SÃO INTENCIONAIS E DIRECIONADOS OU, COMO ACONTECEU CONOSCO,LÁ EM CASA,NÓS CONSTRUIMOS O NOSSO RITO DE PASSAGEM,POIS NÃO EXISTIA QUEM NOS DIRECIONASSE. SÓ DEPOIS DE UM DETERMINADO TEMPO PERCEBEMOS ISSO,POIS A TRANSIÇÃO EXISTIA E COM ELA A NECESSIDADE DE UM FORTALECIMENTO PARA O ENFRENTAMENTO ÀS NOVAS SITUAÇÕES.QUANDO É ASSIM, O SOFRIMENTO É IMENSAMENTE PROFUNDO,PORÉM O CRESCIMENTO É PROPORCIONAL. ESSE SEU ARTIGO MEXEU COM MINHAS REMOTAS LEMBRANÇAS DESSA ETAPA.OBRIGADA PELA CONTRIBUIÇÃO.

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  2. Que bom Lucila!

    De fato, todos nós passamos por isso em algum momento, de formas diferentes, faz parte do crescimento. Bj!

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